Juros caíram de novo; é o fim da renda fixa?

18 de junho de 2020 | Imprensa

Imagem - Fiduc

O Banco Central cortou a taxa básica de juros novamente, para nova mínima histórica, afetando o rendimento de tradicionais investimentos dos brasileiros, como fundos DI, CDBs e poupança.

Isso preocupa muitos investidores —afinal, fundos de renda fixa somam R$ 2,06 trilhões, a poupança, outros R$ 925 bilhões, representando só essas duas modalidades mais de dois terços do que os brasileiros têm investido.

Com o novo corte de juros, a poupança ou o fundo de renda fixa devem render pouco mais que a inflação. Então, ainda justifica ter algo nesse tipo de produto?

“A renda fixa continua fundamental para os investidores, mas de um jeito diferente do que estavam acostumados antes. Entender e mudar é importante para que o investidor não fique preso ao passado e acabe pagando caro por isso”, afirmou o planejador financeiro e diretor da Fiduc Educação Financeira, Valter Police.

Gestores de recursos e consultores dizem que a renda fixa continua valendo a pena em duas situações:

  1. Disponibilidade: a renda fixa tem um papel fundamental para ser aquele dinheiro que precisa estar disponível –a famosa reserva de segurança. Nela, rentabilidade não é a característica principal. O importante é estar sempre disponível e ter os menores níveis de risco possíveis, seja de calote (risco de crédito), seja de oscilação (volatilidade)
  2. Reduzir a oscilação da carteira: a renda fixa, de uma forma geral, apresenta menor volatilidade que outras classes de ativo, e isso é importante para que o cliente mantenha o nível adequado dessa característica na sua carteira, de acordo com o seu perfil.

Reserva de Emergência

Os profissionais de mercado dizem que a renda fixa é ainda a mais indicada para cobrir despesas inesperadas. Como, por exemplo, substituir a renda quando se perde o emprego ou o negócio fecha, como aconteceu nessa pandemia.

“A renda fixa é fundamental como reserva de emergência. Então, nesse sentido, ela segue válida. Ou, ainda, para investidores que não podem correr risco com uma parcela de investimento do seu capital”, afirmou o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves.

Nesse caso, a renda fixa pode ser até 100% dessa carteira.

“Apesar de terem agora rendimentos menores, os títulos públicos pós-fixados continuam fazendo sentido para sua reserva de emergência: dependendo do caso, algo como o equivalente entre três e 12 meses de seus gastos”, afirmou o gestor da gestora de recursos Vítreo, Rodrigo Knudsen.

Além dos títulos do Tesouro, também podem fazer esse papel aplicações em CDB com liquidez diária, poupança e fundos DI, com taxas de administração baixas, inferiores a 0,5%.

Investimento de longo prazo

Para quem já tem a reserva de emergência, a renda fixa também pode entrar na carteira de investimento, mas em menor percentual, dependendo do perfil de risco do investidor.

Nesse caso, essas aplicações vão funcionar como um amortecedor para o investidor. Quando a Bolsa, por exemplo, oscilar muito, a renda fixa vai atenuar a volatilidade da carteira.

“A renda fixa é importante para balancear o risco das carteiras dos investidores. A grande maioria dos investidores não tem perfil de risco agressivo”, afirma o diretor de riscos da Quasar Asset Management, José Perri.

Para compor essa parte do investimento de longo prazo, o produto de renda fixa não precisa ser exatamente o mesmo tipo que se tem na reserva de emergência. O aplicador pode abrir mão de liquidez e correr um pouco mais de risco.

Correr mais risco

Os gestores dizem o investidor deve estar ciente que vai ter que correr mais risco para ter ganhos nas aplicações de longo prazo —ou seja, naquela parte das aplicações que não precisam ser sacadas para cobrir emergências.

“Os juros vão voltar a subir no Brasil, mas não vão voltar ao que era antes. O investidor vai ter que correr mais risco”, afirma o planejador financeiro da plataforma de educação financeira Planejar, Francisco Levy. Isso vale para os ativos de renda fixa.

Alongando prazos

Em vez de aplicar em título de renda fixa do governo federal, que tem risco de calote praticamente zero, a pessoa vai ter que buscar títulos de empresas, por exemplo, como debêntures.

Em vez de um CDB de banco com liquidez diária, nessa parte da carteira de investimento, o CDB pode ser de prazo mais longo, de um a três anos, sem liquidez diária, mas que paga um rendimento maior.

E mesmo no Tesouro Direto, em vez de aplicar em papéis com vencimento de curto prazo, o aplicador poderá escolher aqueles com prazo de cinco ou mais anos porque pagam taxas melhores. Mas, em todos os casos, ele terá que esperar o vencimento, ou seja, abrindo mão do acesso imediato ao investimento.

“O percentual da carteira em renda fixa vai depender do apetite ao risco de cada investidor: quanto maior for este apetite, menor tende a ser a exposição em relação à renda fixa”, afirma o sócio da gestora de recursos Gauss Capital, Carlos Menezes.

Levando em conta a idade

Consultores destacam que a idade do investidor tem peso grande na hora de avaliar se vale a pena investir em renda fixa.

Dos 20 aos 45 anos, você pode tomar mais riscos porque tem tempo para perder e esperar uma recuperação. Então, pode estar mais exposto à renda variável. Portanto, que seja composto de ativos bem escolhidos.

Nesse caso, o aplicador pode ter 30% em renda fixa, para formar aquele “colchão” de oportunidades e emergências, e 70% em renda variável.

Na outra ponta, dos 65 anos em diante, a ideia é ter risco tendendo a zero, portanto, ficar 100% em renda fixa. Nesse momento é garantir que se tenha uma sucessão tranquila e sem tropeços. E jamais perder dinheiro com sustos na economia.

Por João José Oliveira. Do UOL, em São Paulo