Como administrar o orçamento familiar em época de quarentena

23 de março de 2020 | Imprensa

Imagem - Fiduc

A crise do coronavírus dominou o mundo. Autoridades já classificam o momento como tempo de guerra em época de paz. As medidas de isolamento estão impactando as famílias fluminenses com a queda nos rendimentos, a incerteza quanto ao futuro dos empregos e a preocupação com os gastos imprevistos com saúde. Especialistas em finanças orientam que a hora é de cautela e análise do orçamento familiar para enfrentar a turbulência, ainda sem data para acabar.

As primeiras orientações — que valem para todos os cidadãos — incluem não fazer gastos desnecessários e adiar investimentos, a não ser que se possa fazer o pagamento à vista, e avaliar bem seus custos. Se for possível, é melhor reservar alguma quantia.

— Mesmo quem tem emprego fixo, com carteira assinada ou no serviço público, deve ter consciência de sua situação financeira. Muita gente não sabe exatamente quanto gasta mensalmente. Por isso, dimensione suas despesas fixas — afirmou Valter Police, certificado da Planejar — Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.

Profissionais autônomos ou com renda variável já estão tendo queda em suas receitas e ficando preocupados. A recomendação é tentar negociar gastos fixos, como aluguel e mensalidades de escolas, cursos e academias. É o caso do casal Nana, de 50 anos, e Geraldo Cardoso, de 54, dona de salão de beleza e taxista.

— É preocupante. Não sei se as clientes virão mais. Meu marido rodou o dia inteiro de taxi esta semana e só conseguiu ganhar R$ 32. Não está valendo a pena. Conversei com a proprietária da minha casa, e ela me deixou mais tranquila. Disse para eu não me preocupar com o aluguel agora — contou Nana.

Segundo Ricardo Teixeira, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), o melhor é estimar o quanto conseguirá faturar nesse período e o quanto poderá faltar para cobrir as despesas mensais. Assim, quem tem obrigações financeiras deve comunicar a situação aos envolvidos:

— É preciso fazer as contas logo e verificar onde é possível cortar custos e que negociações a pessoa pode tentar fazer. A ideia é evitar empréstimos. Se tiver um parente que possa ajudar financeiramente, ele também se sentirá mais seguro se você demonstrar que tem controle da situação.

Para quem não tem como fugir de um pedido de empréstimo, a recomendação é não usar crédito de curto prazo a juros exorbitantes — cartão de crédito e cheque especial, a juros de 317% e 166% ao ano, respectivamente, segundo o Banco Central (BC) — e trocar o contrato atual por um mais barato. É preciso pesquisar bem as opções no mercado.

Para George Sales, professor de Finanças do Ibmec/SP, a ajuda do governo é fundamental neste momento. Algumas medidas já foram anunciadas; outras estão em estudo. Mas é preciso que as pessoas façam a sua parte:

— É preciso que as pessoas estejam conscientes da situação. Devem ver o que precisa exatamente e procurar a ajuda certa. É preciso cuidado agora para essa crise de liquidez não se tornar um problema de crédito. O governo precisa assumir algum prejuízo, e as pessoas devem ser responsáveis, porque depois a conta vai chegar.

Preocupação com as dívidas

Quem tem dívida com financiamento imobiliário, empréstimo consignado ou crédito pessoal deve analisar se conseguirá honrar o pagamento nos próximos meses. Os grandes bancos já anunciaram que os devedores poderão solicitar a prorrogação do vencimento de dívidas por 60 dias, incluindo a prestação da casa própria, o que poderá dar um alívio nas contas. A vantagem, no entanto, não se aplica a cartão de crédito ou cheque especial.

Stela Rodrigues, de 28 anos, é diarista, casada e tem dois filhos. Ela tem um parcelamento de longo prazo no cartão de crédito que vinha conseguido pagar. Agora, deverá ter dificuldades. Seu marido foi dispensado do emprego informal em razão da crise, e ela vem tendo faxinas canceladas:

— Estou aflita. Pelo menos, não pago aluguel. Mas as contas, e principalmente o cartão, não sei como vou pagar. Vou ter que buscar uma solução.

A recomendação é trocar essa dívida cara de curto prazo por um empréstimo mais barato. É preciso pesquisar bem as opções disponíveis no mercado. O cliente não deve procurar somente os bancos tradicionais. Hoje, há instituições menores e fintechs que operam de forma digital e podem oferecer condições melhores (veja ao lado).

É importante também, antes de contratar um crédito para pagar uma dívida, analisar se há pertences em casa que podem ser vendidos, ajudando a obter um dinheiro extra.

— Às vezes, as pessoas se esquecem de que têm valores disponíveis em bens, como moto ou carro, ou objetos. Pense que você pode recuperar isso depois, em outras condições. Pagar juros sempre é o pior negócio — disse Valter Police, da Planejar.

Nova rotina também de gastos

Se por um lado as receitas estão sendo afetadas, por outro os gastos sociais também vão diminuir com a restrição de circulação de pessoas, como as idas a bares e restaurantes. Há uma nova rotina também em supermercados.

— Saindo pouco, esse gasto é reduzido, mas é preciso entender que as prioridades mudam. A tendência é que alimentos perecíveis fiquem mais caros agora. Então, vale mudar a sua rotina — sugeriu Ricardo Teixeira, professor da FGV.

Por precaução, as pessoas já estão economizando. Cláudia Tereza Pinho, de 46 anos, cuidadora de idosos, já foi dispensada alguns dias da semana de seu trabalho, mas continua recebendo. No entanto, já está atenta e cortando os gastos:

— Estou em uma nova rotina, tentando economizar em casa para diminuir as contas. Estou me preparando porque não sabemos como vai ficar.

O dinheiro pode estar mais escasso, mas o tempo livre está maior. E isso pode ser usado a seu favor.

— Por que não transformar o tempo em dinheiro? Uma dica é mudar hábitos. Coisas que antes eram compradas a pessoa pode passar a fazer em casa. Isso gera grande economia— disse Valter Police.

Como se preparar financeiramente para o isolamento

1) Analise seu orçamento e reveja gastos

  • Veja quais são os seus custos mensais e tente prever como será a sua receita e se poderão faltar recursos

  • Não é o momento para gastos supérfluos ou desnecessários, mesmo com promoções. Evite o impulso de compras on-line

  • Substitua alimentos que subiram muito de preço por outros, como não perecíveis

  • Evite financiamentos, o futuro está muito incerto

  • Se acreditar que pode faltar dinheiro, pense em custos fixos que podem ser cancelados temporariamente, como assinaturas

2) Veja se tem recursos poupados e quanto podem durar

  • Quem tem dinheiro guardado e prevê que faltem recursos no orçamento mensal, é hora de usá-lo. Para saber por quanto tempo a quantia poderá ajudar nas finanças da casa, é preciso estimar como ficarão os gastos depois da contenção

  • Se não tiver dinheiro guardado, veja se há itens que podem ser vendidos

  • Tente guardar alguma coisa depois de rever os custos para o futuro. Opções seguras nestemomento são caderneta de poupança, Tesouro Selic e fundo DI

3) Precisando de dinheiro? Veja como analisar crédito

  • Antes de ir a mercado de crédito, consulte parentes e amigos sobre a possibilidade de um empréstimo. Não é vergonha, e alguém pode estar disposto a ajudar

  • Quem precisar pegar um empréstimo com uma instituição financeira não deve aceitar crédito de curto prazo, como cheque especial e cartão de crédito. Os juros são altíssimos

  • Procure um crédito pessoal adequado à sua necessidade. Os bancos estão oferendo condições especiais

  • Pesquise também as condições oferecidas pelas fintechs de crédito. Elas oferecem dinheiro com e sem garantia a taxas mais competitivas e de forma 100% digital

Veja algumas opções:

Bcredi

Tipo de crédito que oferece: crédito imobiliário, crédito com garantia em imóvel e financiamento imobiliário

Condições: juros a partir de 0,99% ao mês + IPCA , prazo alongado de até 240 meses e empréstimos a partir de R$ 30 mil até R$ 4 milhões

Onde acessar: www.bcredi.com.br/

Lendico

Tipo de crédito que oferece: empréstimo pessoal sem garantia

Condições: empréstimos de R$ 2.500 a R$ 50 mil, com pagamentos em 12, 18, 24, 30 ou 36 meses e taxas a partir de 2,84% ao mês (conforme análise de crédito)

Onde acessar: www.lendico.com.br

Creditas

Tipo de crédito que oferece: crédito com garantia de imóvel e de veículo e consignado privado

Empréstimo com garantia de imóvel – Home Equity

Condições: valor mínimo de R$ 30 mil e valor máximo de R$ 3 milhões, com juros: a partir de 0,89% ao mês e prazo de pagamento de 60 a 180 meses. Crédito de até 60% do valor de avaliação doimóvel, com limite flexível, que fica à disposição do cliente para ser usado quando e quantas vezes quiser

Empréstimo com garantia de veículo

Condições: valor mínimo de R$ 5 mil e valor máximo de R$ 150 milm com juros a partir de 1,49% aomês, prazos de 18 a 60 meses e crédito de 90% do valor do veículo. São aceitos apenas carros de passeio

Empréstimo consignado privado

Condições: sem valor mínimo e com valor máximo de R$50 mil, com juros a partir de 1,19% ao mês e prazo de pagamento de 6 a 48 meses. Crédito para colaboradores de empresas privadas em regime CLT. Parcelas que não ultrapassam 30% do salário com desconto direto na folha de pagamento

Onde acessar: ww.creditas.com.br

Geru Tecnologia e Serviços S.A.

Tipo de crédito que oferece: empréstimo pessoal sem garantia

Condições: parcelamento de 12 a 36 meses, com 40 dias para começar a pagar

Onde acessar: www.geru.com.br

Pontte

Tipo de crédito que oferece: empréstimo pessoal com garantia de imóvel

Condições: taxa mínima caiu de 0,99% para 0,85% ao mês, com valor mínimo do imóvel reduzido de R$ 300 mil para R$ 200 mil, valor mínimo do empréstimo baixado de R$ 48 mil para R$ 30 mil eprazo de pagamento elevado de 180 meses para até 240 meses

Onde acessar: www.pontte.com.br

Quem é MEI (microempreendedor individual) também pode solicitar crédito pela AgeRio

Condições: para o microcrédito estão sendo oferecidas taxas a partir de 0,25% ao mês, carência de 12 meses, prazo de pagamento de até 24 meses e limite de crédito de R$ 21 mil

Onde acessar: www.agerio.com.br/credito-emergencial

4) Se já está endividado

  • Se achar que terá dificuldades de honrar o pagamento de dívidas, procure a instituição financeira imediatamente para renegociar. Muitos estão dando carência e outras condições especiais. Se não conseguir, pense em trocar a sua dívida por outra em outra instituição financeira

  • Se tem dívidas no Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander: os bancos vão atender a pedidos de prorrogação, por até 60 dias, dos vencimentos de empréstimo de crédito pessoal de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas. Não é válido para cheque especial e cartão de crédito. Os bancos podem ser procurados em seus canais digitais

  • Procure linhas para pagar uma dívida antiga. O ideal é trocar as dívidas caras de curto prazo por outras mais baratas de longo prazo. São opções: crédito consignado, crédito pessoal ou crédito com garantia real

Por Patricia Valle, do Extra Online.